Eu comecei a postar no meu IG os filmes que ando assistindo, mas como os comentários são super breves, eu resolvi escrever aqui as minhas impressões sobre eles de forma mais elaborada.
Malévola se tornou meu queridinho da Disney e as razões eu vou te contar agora!
1. O filme ja deu match no meu coração em uma das primeiras cenas em que a narradora explica que Malévola vive em um reino anarquista, autogerido, vizinho ao reino dos humanos regido por um monarca ganancioso. Em uma tentativa de conquistar o reino de Moors, o rei declara guerra ao reino onde vive Malévola e ordena que a matem por ela não reconhecer sua autoridade.
A partir desse trecho nos podemos discutir mil coisas! Colonialismo, Imperialismo (antigo e atual), formas de governo, ética, territorialismo e até o atualíssimo nacionalismo que cresce forte na Europa e discute a imigraçao. Ela nao exaure o tema, obvio, mas pode ser um excelente ponto de partida para debater os conceitos.
2. Rediscute a questão do mal e apresenta novas perspectivas sobre os viloes.
Ao não reconhecer a autoridade do rei embusteiro (opinião pessoal) o povo de Moors é declarado instantaneamente símbolo do mal e há um discurso inflamado para "derrotar o mal". Parece um discurso familiar? Desumanizar, descaracterizar e realizar associações com o mal para legitimar um ataque é uma ferramenta amplamente usado nos discursos de guerra. Polarizar com "bem x mal" é uma arma eficaz pra agregar forças desavisadas e direcioná-la ao inimigo que convier. Isso é usado no dois filmes da Malévola. Primeiro com o Rei (2014), depois com a Rainha Ingrith(2019). A partir dessa cena podemos discutir a polarização, a demonização histórica de povos e religiões e entender a nossa construção social em cima disso e revisitar com mais consciência nosso universo social.
3. Somos seres complexos e Malévola é a mais pura exemplificaçao dos seres humanos: anjos e demônios.
Malevola, uma fada, ou seja, um elemental da natureza, traz pra tela toda complexidade humana. Com seus poderes sobrenaturais, depois descobrimos que tem a ver com a fenix, ela oscila entre as mais poderosas maldições (causadas pelo sentimento de traição provocada por Stefan, um humano ganancioso que a ilude e a trai por poder e dinheiro) e o mais puro amor verdadeiro, único capaz de quebrar a maldição. O poder da vida (da natureza)ngelical e o poder da ira e da vingança, seu aspecto demoníaco, tudo junto e misturado deixando-a super humana.
4. Os três aspectos do feminino (2019): a mae cuidadora (Malevola), a donzela (Aurora) e a mae devoradora (Ingrith). Só que além de trazer os tres aspectos simbólicos do feminino de forma tao bonita o filme também traz uma desconstrução muito legal, quando coloca a Malévola, apresentada a priori como o mal, trazendo o aspecto da mae protetora. O que nos faz repensar os esteriótipos que nos empurram guela abaixo.
5. A relação da Malévola com a fênix.
Quando descobrimos que o poder da Malevola vem da Fênix, nós podemos aprofundar ainda mais nossa compreensão da Malevola, do mal e do seu poder como agente de transformação. Tem uma relacao com os anjos caidos que daria mais um post so falando filosoficamente sobre isso usando historias antigas judaicas e analisando etimologicamente as palavras associadas ao mal. Por hora, gostaria só de salientar o conceito oriental do Tao, da integralidade, permeando toda a narrativa, de que o bem e o mal sao duas partes do Todo. Trabalham juntas a fim de nos levar a um maior patamar de consciência.
Existem alguns clichés que poderiam ter sido evitados? Claro, com certeza. Mas o simbolismo do filme é tao rico que nao passou despercebido no meu coraçãozinho.
Amei a flor da morte que matava as fadas! É a mania humana de desencantar a natureza, tirar-lhe a vida e lhe reduzir ao concretismo material, desprovida de vida e energia. No meio das fadas era um jaedim encantado. Manipulado pelos humanos, armas de destruição.
É um filme muito rico em simbolismos. Nao tenho a pretensão de desvenda-lo inteiro.